Há mais de 60 anos, Pelé marcava o que, para muitos, é o melhor gol da história do futebol
-09/10/2024
Há mais de 60 anos, Pelé marcava o que, para muitos, é o melhor gol da história do futebol
Há momentos no futebol que transcendem o tempo e se tornam lendas. Momentos que, mesmo sem imagens, se mantêm vivos na memória daqueles que tiveram a sorte de presenciar e que, por gerações, são contados como fábulas de um esporte que, às vezes, se confunde com magia. Um desses momentos aconteceu em 2 de agosto de 1959, no estádio Conde Rodolfo Crespi, mais conhecido como Estádio da Rua Javari, casa do Juventus, na Mooca, São Paulo. Foi lá que Pelé, o Rei do Futebol, marcou o gol que muitos consideram o mais bonito de sua carreira, um gol que vive através das palavras e das memórias.
Naquele dia, Santos e Juventus se enfrentavam em uma partida que, até então, parecia apenas mais um jogo do Campeonato Paulista. O estádio da Rua Javari, tradicional, intimista, lotado de torcedores apaixonados, tornou-se o palco de um dos momentos mais gloriosos do futebol. E, no meio desse cenário, um jovem Pelé, de apenas 18 anos, já era um fenômeno em ascensão, conhecido por seu talento fora do comum e sua capacidade de fazer o inesperado parecer fácil.
O jogo estava acirrado, típico de um confronto da época. O Juventus, sempre competitivo, não dava espaço para o Santos respirar. A partida era pegada, com as duas equipes batalhando em cada lance, em cada dividida. Mas, como tantas vezes aconteceria na carreira de Pelé, um instante bastou para que o talento do Rei se impusesse sobre a vontade dos mortais.
Pelé recebeu a bola na intermediária, de costas para o gol. Foi então que ele começou sua dança. Em um movimento que parecia coreografado por deuses, deu o primeiro chapéu, passando a bola por cima do primeiro marcador. A torcida do Juventus, que havia vindo para apoiar o time da casa, prendeu a respiração. Em seguida, veio o segundo chapéu. Pelé manteve o controle absoluto, como se o tempo tivesse desacelerado apenas para ele. Quando o terceiro defensor veio, mais um toque sutil por cima da cabeça, e o terceiro chapéu foi executado com a precisão de um mestre.
O estádio, a essa altura, já estava em transe. A defesa do Juventus, que até então parecia impenetrável, estava completamente desconcertada. Mas Pelé não havia terminado sua obra-prima. Como o golpe final de um artista, ele deixou a bola quicar levemente à sua frente antes de, com a frieza de um gênio, finalizá-la de voleio, sem deixar a bola cair. O chute encontrou o fundo das redes, deixando o goleiro parado, um mero espectador de um dos momentos mais sublimes da história do futebol.
O que se seguiu foi uma cena que raramente se vê no futebol: o estádio inteiro, mesmo os torcedores do Juventus, aplaudiu. Eles sabiam que haviam testemunhado algo que nunca mais seria repetido. Um gol que era mais do que um simples tento — era uma declaração de genialidade pura, uma redefinição do que era possível em um campo de futebol. O jovem Pelé, com aquele lance, mostrou ao mundo que o futebol poderia ser mais do que um esporte; poderia ser arte em movimento.
Esse gol, considerado o mais belo de sua carreira, não foi filmado. Não há imagens, não há vídeos. Só há relatos, descrições apaixonadas de quem viu, de quem esteve lá, e de quem ouviu daqueles que estiveram. Mas, talvez, o fato de que ele viva apenas na memória e na imaginação o torne ainda mais lendário. É o gol que nunca morrerá porque se recusa a ser reduzido ao limite de uma tela. Ele vive nos livros, nas conversas de bar, nas recordações dos mais velhos, e nos sonhos dos que amam o futebol.
E assim, o gol que ninguém viu continua a ser o mais contado, o mais descrito, o mais venerado. Porque em cada palavra, em cada detalhe, está a certeza de que Pelé, naquele dia, no estádio do Juventus, fez algo que nenhum vídeo poderia capturar por completo: ele transformou o futebol em pura poesia.
Jornalista em formação pela Unesp Bauru.
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