Roberto Baggio deixou sua marca na história do futebol com talento e determinação, apesar do pênalti que mudou sua carreira e o destino da Itália naquele dia
-09/10/2024
Roberto Baggio deixou sua marca na história do futebol com talento e determinação, apesar do pênalti que mudou sua carreira e o destino da Itália naquele dia
Roberto Baggio, um dos maiores talentos que o futebol italiano já viu, é lembrado tanto pelos momentos de glória quanto por um instante que, até hoje, é difícil para ele e seus fãs esquecerem: o pênalti desperdiçado na final da Copa do Mundo de 1994. Era um momento que deveria coroar sua carreira brilhante, mas que, ao invés disso, o marcou de uma maneira dolorosa, eternizando a imagem de Baggio caminhando cabisbaixo, enquanto o Brasil celebrava seu tetracampeonato mundial. Mas a história de Baggio nessa final vai muito além daquele chute para fora. Para entender o que realmente aconteceu naquela tarde em Pasadena, é preciso voltar no tempo e reviver o contexto, as emoções e os desafios que moldaram aquele fatídico dia.
A Copa de 1994, realizada nos Estados Unidos, foi marcada por muito calor, estádios lotados e grandes expectativas para a Itália. Com uma geração talentosa e o lendário Baggio no auge de sua carreira, os italianos chegaram como um dos favoritos ao título. O “Divino Codino”, como era chamado por sua icônica cabeleira amarrada em um rabo de cavalo, estava encantando o mundo com sua técnica, visão de jogo e habilidade de decidir jogos complicados.
No entanto, a caminhada da Itália até a final não foi nada fácil. A fase de grupos foi uma verdadeira montanha-russa de emoções. Após uma derrota chocante para a Irlanda e uma vitória apertada contra a Noruega, a Itália conseguiu se classificar para as oitavas de final apenas no saldo de gols. Não era o desempenho esperado de um time que sonhava em levantar o troféu, e a pressão sobre Baggio aumentava. E foi exatamente nesse cenário de adversidade que o craque italiano começou a brilhar.
Nas oitavas, contra a Nigéria, a Itália estava a minutos de ser eliminada. Perdendo por 1 a 0, Baggio apareceu no momento mais crítico e empatou o jogo com um chute preciso, levando a partida para a prorrogação. Nos minutos finais do tempo extra, Baggio converteu um pênalti e salvou a Azzurra. Era o primeiro sinal de que ele seria o grande responsável por carregar a Itália nas costas.
Nas quartas de final, a Itália enfrentou a Espanha em um duelo tenso. Mais uma vez, Baggio brilhou. Com o jogo empatado em 1 a 1 e se aproximando do fim, ele marcou o gol da vitória, driblando o goleiro e finalizando com a classe que lhe era característica. A Itália estava nas semifinais, e Baggio, com dois gols decisivos, estava se tornando a esperança de toda uma nação.
Na semifinal, contra a Bulgária, Baggio novamente mostrou sua magia. Ele marcou dois gols, garantindo a vitória por 2 a 1 e colocando a Itália na final contra o Brasil. Mas algo preocupava os torcedores: durante a partida, Baggio sentiu uma lesão na coxa, e a dúvida sobre sua condição física para a final começou a pairar no ar.
No dia 17 de julho de 1994, o mundo inteiro parou para assistir à final entre Brasil e Itália. Dois gigantes do futebol mundial, ambos buscando seu quarto título mundial, se enfrentariam em um dos cenários mais icônicos da história das Copas, o Rose Bowl, em Pasadena. Para a Itália, era a chance de se redimir da derrota na final de 1970, também para o Brasil. Para Baggio, era a oportunidade de selar seu destino como um dos maiores jogadores da história, levando sua seleção à glória.
Mas as coisas não seriam fáceis. Desde o apito inicial, ficou claro que Baggio não estava 100%. A lesão na coxa limitava seus movimentos, e ele não conseguia impor o mesmo ritmo que o havia feito brilhar nos jogos anteriores. A partida foi extremamente disputada, mas sem grandes emoções. Nenhuma das equipes conseguiu criar chances claras, e o jogo terminou empatado em 0 a 0, levando à prorrogação.
Nos 30 minutos adicionais, o cansaço tomou conta dos jogadores, e o temor de uma decisão por pênaltis começou a crescer. Baggio, visivelmente abatido, tentava, mas não conseguia ser o mesmo craque que havia carregado a Itália até ali. Quando o árbitro apitou o fim da prorrogação, estava decidido: o destino da Copa do Mundo seria selado nos pênaltis.
Decidir uma Copa do Mundo nos pênaltis é, por si só, uma das experiências mais emocionantes e, ao mesmo tempo, angustiantes que um jogador pode vivenciar. Para Baggio, aquele momento seria ainda mais pesado. Já carregando o peso de liderar a Itália até ali, ele agora tinha que enfrentar a pressão de bater o último pênalti.
O Brasil começou bem, com Romário e Branco convertendo suas cobranças, enquanto a Itália, por outro lado, viu seu capitão Franco Baresi chutar por cima do gol. A tensão no lado italiano era palpável. Mas Albertini e Evani marcaram para a Azzurra, e a disputa seguiu equilibrada. Tudo indicava que o destino de Baggio e da Itália ainda estava nas suas mãos.
Quando Dunga converteu o pênalti que colocou o Brasil na frente por 3 a 2, Baggio caminhou lentamente em direção à marca do pênalti. A imagem daquele momento é uma das mais icônicas da história do futebol. O estádio estava silencioso, e a pressão sobre o craque era esmagadora. Ele sabia que, se errasse, o sonho italiano acabaria ali.
Baggio respirou fundo, olhou para o goleiro Taffarel, ajeitou a bola e deu alguns passos para trás. O que se seguiu foi um dos momentos mais dolorosos da história do futebol. Seu chute subiu muito, passando por cima do travessão, e o Brasil foi campeão do mundo. O Rose Bowl explodiu em comemoração, enquanto Baggio permanecia parado, olhando incrédulo para o chão.
O Brasil comemorava seu tetracampeonato, mas os olhos do mundo estavam em Baggio. Ele havia sido o herói da Itália em toda a campanha, o jogador que havia tirado o time do abismo várias vezes, mas naquele momento, ele se sentiu o vilão. O peso do erro caiu sobre seus ombros, e ele mal conseguia esconder a decepção. Com a cabeça baixa e os olhos fixos no gramado, Baggio saiu de cena, enquanto a festa brasileira tomava conta do estádio. Naquele instante, Baggio se tornou o “homem que morreu em pé”, um jogador que lutou até o último suspiro, mas foi derrotado pelo destino em seu momento mais crucial.
Aquele pênalti jamais foi esquecido. Para muitos, o erro de Baggio na final de 94 foi o ponto final de uma das histórias mais tristes do futebol. No entanto, a verdade é que sua carreira foi muito maior do que aquele momento. Baggio era um gênio, um jogador que encantava com sua habilidade e visão de jogo. Ele foi o principal responsável por levar a Itália até aquela final e, mesmo com o erro, sua genialidade não pode ser ofuscada por um único chute.
Em entrevistas anos depois, Baggio revelou a dor que sentiu após aquele erro. “Eu nunca vou esquecer, e é algo que vai me acompanhar para sempre. Mas a vida é assim. Eu aprendi com aquilo”, disse ele em uma de suas reflexões mais honestas.
O legado de Roberto Baggio vai muito além daquele pênalti. Ele foi um dos maiores jogadores da sua geração, alguém que inspirou milhões de fãs ao redor do mundo com sua maneira de jogar. O “Divino Codino” pode ter perdido aquele pênalti em 94, mas ele nunca perdeu o respeito e a admiração de quem o viu em campo.
Jornalista em formação pela Unesp Bauru.
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