No último suspiro da Premier League 2011-2012, o gol épico de Agüero contra o QPR deu ao Manchester City um título homérico e mudou para sempre a história do clube e do futebol inglês
-09/10/2024
No último suspiro da Premier League 2011-2012, o gol épico de Agüero contra o QPR deu ao Manchester City um título homérico e mudou para sempre a história do clube e do futebol inglês
Há momentos no futebol que transcendem o campo e entram diretamente no reino da eternidade. Manchester City contra Queens Park Rangers, 13 de maio de 2012. Última rodada da Premier League. O Etihad Stadium, lotado até o último assento, estava prestes a testemunhar o mais improvável e emocionante desfecho de um campeonato na história do futebol inglês. Um jogo que começou com esperança, passou pela agonia e terminou com um grito que ecoaria para sempre: “Agüeroooo!”
Para entender o contexto, é preciso voltar um pouco no tempo. O Manchester City, tradicionalmente, era visto como um gigante adormecido no futebol inglês, vivendo à sombra do arquirrival Manchester United. Anos de frustração, insucessos e quase irrelevância haviam moldado a identidade do clube. Mas tudo mudou em 2008, quando o clube foi comprado pelo Sheikh Mansour e um novo capítulo começou a ser escrito. Milhões foram investidos, e o City começou a montar um elenco estelar. No comando, Roberto Mancini. E dentro de campo, estrelas como Yaya Touré, David Silva e o jovem argentino Sergio Agüero. A temporada de 2011-2012 seria o teste definitivo de que a nova era do City estava pronta para alcançar a glória.
A última rodada trouxe um cenário de sonho e pesadelo. O City chegou empatado em pontos com o Manchester United, mas liderando por conta do saldo de gols. Tudo o que precisavam era vencer o modesto Queens Park Rangers, que lutava contra o rebaixamento. Um desafio teoricamente fácil, mas o futebol tem suas próprias regras, ditadas por nervosismo, pressão e o imprevisível. Enquanto isso, o United enfrentava o Sunderland no Stadium of Light. Era um dia de decisão para ambos os lados de Manchester. O City em busca de seu primeiro título da liga em 44 anos, e o United, liderado pelo lendário Sir Alex Ferguson, à espreita para mais uma vez arrebatar a coroa.
O jogo começou como esperado. O City dominava as ações, e o Etihad fervilhava de esperança. E o primeiro passo para a glória veio aos 39 minutos do primeiro tempo, com Pablo Zabaleta abrindo o placar após um chute que desviou no goleiro do QPR. O estádio explodiu. Tudo parecia se encaminhar para um final feliz. No entanto, o futebol, com seu caráter cruel, tinha outros planos. O QPR, em uma rara investida, empatou o jogo com Djibril Cissé aproveitando um erro de Joleon Lescott. E aí, o nervosismo começou a tomar conta.
Aos 66 minutos, o improvável aconteceu. Em um contra-ataque rápido, Jamie Mackie, de cabeça, colocou o QPR na frente. 2 a 1. Silêncio e incredulidade no Etihad. O Manchester United, vencendo seu jogo, estava agora a poucos minutos de mais um título. O sonho do City estava à beira do colapso. Os jogadores sentiam o peso de 44 anos de frustração nos ombros. A pressão de décadas de expectativas não correspondidas se transformava em pânico.
O relógio avançava. 85 minutos, 88 minutos, 90 minutos. A torcida do City estava em desespero. Alguns, de costas para o campo, não suportavam assistir. E então, como um lampejo de esperança, veio o empate. Edin Džeko subiu mais alto que todos após um escanteio e, de cabeça, marcou o 2 a 2 aos 91 minutos. Um fio de vida. Um pingo de esperança.
Mas ainda era preciso mais um gol. O City precisava de um milagre. O relógio marcava 93 minutos e 20 segundos. Mario Balotelli, um nome sempre associado ao imprevisível, fez uma jogada improvável, caindo e, mesmo assim, conseguindo um passe milimétrico para Sergio Agüero. O argentino, com a frieza de um gênio e a precisão de um cirurgião, driblou o defensor do QPR e chutou firme, rasteiro. A bola encontrou o fundo das redes.
O que se seguiu foi um dos momentos mais icônicos da história do futebol. Martin Tyler, narrador da Sky Sports, perdeu a compostura e imortalizou o momento com um grito que ainda ecoa: “Agüerooooo! Eu juro, você nunca vai ver nada assim de novo. Tão lembre-se deste dia!” O estádio virou um mar de euforia, lágrimas e abraços. A torcida que, minutos antes, estava desolada, agora experimentava o auge da alegria. Nas arquibancadas, era impossível distinguir entre lágrimas de dor e de felicidade.
Aquele gol não foi apenas um gol. Foi um renascimento. Foi a ressurreição de um clube que, por tanto tempo, viveu na sombra, que experimentou a amargura de ser o “outro” time de Manchester. Foi o golpe final que anunciou ao mundo que o City havia chegado, e eles haviam chegado para ficar. Enquanto isso, o Manchester United, no Stadium of Light, aguardava uma notícia diferente. Mas ao ouvir o grito de Tyler, souberam que o título havia escapado de suas mãos.
O gol de Agüero em 2012 foi mais do que uma vitória; foi a redefinição de uma era. Foi o momento em que o Manchester City encontrou sua voz, quando um clube se recusou a ser o segundo plano de ninguém e quando o futebol provou, mais uma vez, que seus roteiros são escritos pelas mãos dos deuses. “Agüeroooo!” foi mais do que um grito; foi um rugido que acordou uma cidade e mudou para sempre o destino do Manchester City.
Jornalista em formação pela Unesp Bauru.
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