A história de como a rivalidade entre os irmãos Dassler dividiu uma família e deu origem a duas das maiores marcas esportivas do mundo: Adidas e Puma
-09/10/2024
A história de como a rivalidade entre os irmãos Dassler dividiu uma família e deu origem a duas das maiores marcas esportivas do mundo: Adidas e Puma
A história de duas das marcas esportivas mais icônicas do mundo, Adidas e Puma, é também a história de uma rivalidade familiar que moldou o mundo dos negócios e do esporte como o conhecemos hoje. O surgimento dessas gigantes, que dominam o mercado global de calçados e vestuário esportivo, começou de forma muito diferente do que se poderia imaginar: com dois irmãos alemães, Adolf e Rudolf Dassler, cuja relação pessoal e profissional implodiu de forma dramática, resultando na criação de dois impérios separados.
Hoje, Adidas e Puma são sinônimos de inovação, estilo e performance, com uma presença em praticamente todos os esportes e culturas ao redor do mundo. No entanto, o que muitos não sabem é que essas empresas nasceram sob o mesmo teto, de uma mesma família e de um sonho compartilhado que, tragicamente, se transformou em uma das maiores rivalidades da história corporativa.
A história começa em Herzogenaurach, uma pequena cidade na Baviera, Alemanha. Adolf Dassler, conhecido como “Adi”, era um jovem criativo e apaixonado por esportes, especialmente corrida. Ele tinha uma obsessão por desenvolver calçados que maximizassem o desempenho dos atletas. Em 1924, Adi e seu irmão mais velho, Rudolf Dassler, fundaram a “Gebrüder Dassler Schuhfabrik” (Fábrica de Calçados dos Irmãos Dassler) na lavanderia da casa de seus pais. Com Adi focado no design dos calçados e Rudolf cuidando das vendas e marketing, os dois irmãos complementavam perfeitamente as forças um do outro.
Em pouco tempo, a fábrica começou a crescer, e os calçados da Gebrüder Dassler Schuhfabrik ganharam popularidade, especialmente entre atletas. O grande momento inicial veio nos Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim, quando Adi Dassler pessoalmente entregou um par de seus sapatos a Jesse Owens, o velocista americano que ganhou quatro medalhas de ouro. A vitória de Owens não apenas solidificou a reputação dos calçados Dassler, como também colocou a marca no mapa global, abrindo portas para o sucesso.
Apesar do sucesso inicial, as tensões entre os irmãos começaram a crescer. Havia uma clara diferença de personalidade: Adi, reservado e focado no produto, e Rudolf, extrovertido e agressivo nas vendas. Com o passar do tempo, essas diferenças, que no início complementavam a empresa, começaram a se tornar um ponto de discórdia. Além disso, a política e o contexto histórico da Alemanha nos anos 1930 e 1940 contribuíram para aprofundar a cisão.
Durante a Segunda Guerra Mundial, as tensões entre os irmãos aumentaram drasticamente. A fábrica de calçados foi, em um certo ponto, requisitada para produzir material militar para o exército alemão. As diferenças de opinião sobre a guerra, junto com o crescente estresse da situação, causaram uma ruptura quase irreparável. Rumores indicam que um comentário feito por Rudolf sobre um bombardeio aliado – que ele teria interpretado como sendo intencionalmente direcionado à sua casa, supostamente com o apoio de Adi – aprofundou ainda mais o ressentimento.
Em 1943, Rudolf foi convocado para o exército e, ao voltar, acusou seu irmão de ter colaborado com as forças de ocupação para que ele fosse preso, algo que Adi sempre negou veementemente. Esse período de desconfiança mútua e traição percebida seria o ponto de virada na relação dos irmãos Dassler.
Em 1948, após anos de conflitos pessoais e profissionais, os irmãos tomaram a decisão de seguir caminhos separados. A Gebrüder Dassler Schuhfabrik foi oficialmente dissolvida, e cada um criou sua própria empresa. Adi Dassler fundou a Adidas, um nome derivado de uma combinação de seu apelido, “Adi”, e as três primeiras letras de seu sobrenome, “Das”. Rudolf Dassler, por sua vez, fundou a Puma.
As fábricas foram divididas, assim como os funcionários. Grande parte da cidade de Herzogenaurach, que havia se beneficiado com o sucesso da empresa, também ficou dividida. A cidade passou a ser conhecida como “a cidade dos sapatos”, mas também como o centro de uma rivalidade amarga entre os partidários da Adidas e da Puma. Até os bares, escolas e comércios da cidade passaram a ser identificados como “pró-Adidas” ou “pró-Puma”, reforçando a animosidade que se espalhava pela cidade e pela indústria esportiva.
A separação dos Dassler desencadeou uma competição feroz que impulsionou as duas marcas ao sucesso global. Ambas as empresas tinham uma visão clara: dominar o mundo dos calçados e artigos esportivos. A inovação tornou-se a chave dessa disputa.
A Adidas começou a ganhar destaque na década de 1950 com suas chuteiras revolucionárias. Nos Jogos Olímpicos de 1952, atletas equipados com calçados Adidas começaram a ganhar medalhas, e, em 1954, a seleção alemã de futebol venceu a Copa do Mundo da FIFA usando as famosas chuteiras com travas removíveis da Adidas, um feito que catapultou a marca para a fama internacional.
Rudolf, com sua Puma, também apostou no esporte para expandir a empresa. Puma se destacou no atletismo e no futebol, mas seu grande momento veio em 1958, quando lançaram as chuteiras Puma Atom, que foram usadas pela seleção alemã. A competição entre as duas marcas era intensa e muitas vezes atravessava os limites esportivos. Um exemplo famoso ocorreu nos Jogos Olímpicos de 1960, quando o velocista alemão Armin Hary venceu a corrida de 100 metros com chuteiras Puma, mas usou Adidas no pódio, enfurecendo ambos os irmãos.
A rivalidade entre as duas marcas continuou nas décadas seguintes. Enquanto a Adidas se firmava como líder mundial no futebol, fornecendo bolas, uniformes e calçados para competições internacionais, a Puma seguia como uma concorrente feroz, especialmente em esportes como atletismo e tênis.
Nos anos 70, Adidas assinou contratos com grandes nomes do esporte, como Muhammad Ali, e se consolidou como uma potência global. Nos anos 80, a marca apostou fortemente em marketing, associando-se ao mundo da música e do entretenimento, colaborando com bandas como Run-DMC e criando uma conexão cultural que transcendeu o esporte. A Puma, por sua vez, fechou parcerias com lendas como Pelé e Maradona, que usaram seus produtos em Copas do Mundo.
A rivalidade entre as marcas, embora competitiva, também resultou em inovações que ajudaram a moldar a indústria do esporte. A busca incessante por inovações tecnológicas em calçados, como a introdução de novas travas, amortecimento e designs ergonômicos, beneficiou atletas e consumidores.
Apesar das tensões iniciais e da divisão familiar, tanto a Adidas quanto a Puma conseguiram consolidar seus lugares como dois dos maiores impérios esportivos do mundo. A Adidas, sob a liderança de Adi Dassler e seus sucessores, tornou-se uma marca globalmente reconhecida pela inovação e pelo domínio no mundo do futebol. Hoje, a Adidas patrocina alguns dos maiores atletas e times do planeta, enquanto continua a expandir sua influência no basquete, corrida, tênis e outros esportes.
A Puma, liderada por Rudolf Dassler e seus descendentes, manteve sua reputação como uma marca de excelência no atletismo e no futebol, associando-se a lendas do esporte e mantendo uma forte presença nas principais competições internacionais. Embora menor em termos de receita que sua rival Adidas, a Puma soube reinventar-se, tornando-se uma marca que mescla moda, música e esporte.
A história da separação dos irmãos Dassler e o nascimento de Adidas e Puma é mais do que apenas uma disputa familiar. É um conto de inovação, ambição e como a rivalidade pode impulsionar o crescimento e a excelência. Essas duas marcas não apenas competiram entre si, mas também elevaram os padrões da indústria esportiva a novos patamares, beneficiando milhões de atletas e consumidores em todo o mundo.
Hoje, embora os fundadores não estejam mais vivos, seu legado continua vivo em cada campo de futebol, pista de corrida e quadra de basquete, onde os logotipos da Adidas e da Puma brilham, lembrando a todos de como uma rivalidade de família transformou o esporte para sempre.
Jornalista em formação pela Unesp Bauru.
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