Eric Cantona: o mais vermelho dos diabos

Eric Cantona (57), uma figura lendária e controversa no futebol mundial, é lembrado tanto por seu talento extraordinário quanto por seu temperamento mais… caliente. Nascido em Marselha, França, em 24 de maio de 1966, Cantona trilhou um caminho repleto de altos e baixos, consolidando-se como um dos jogadores mais icônicos e carismáticos da história do esporte. Sua carreira é marcada por momentos de brilho inigualável, polêmicas memoráveis e uma influência duradoura que transcende as quatro linhas.

Os Primeiros Passos: Marselha e a Ascensão na França

Cantona começou sua carreira no Auxerre, onde fez sua estreia profissional em 1983. Seu talento natural rapidamente chamou a atenção, mas foi no Olympique de Marseille que ele começou a mostrar todo o seu potencial. Cantona ajudou o time a conquistar a Ligue 1 em 1989 e 1991, demonstrando uma combinação letal de técnica, visão de jogo e uma arrogância que poucos podiam igualar.

No entanto, sua estadia em Marselha foi tumultuada. Problemas disciplinares e desentendimentos com treinadores e companheiros de equipe começaram a manchar sua reputação. Uma breve passagem pelo Nîmes Olympique terminou em desastre quando ele foi suspenso por chutar uma bola em um árbitro, levando-o a anunciar sua aposentadoria precoce do futebol em dezembro de 1991.

Um Novo Começo: A Chegada na Inglaterra

Mas o destino tinha outros planos para Cantona. Convidado pelo então técnico do Leeds United, Howard Wilkinson, Cantona se aventurou na Inglaterra em 1992. Sua chegada mudou imediatamente a dinâmica da equipe. Com Cantona no ataque, o Leeds conquistou o título da Primeira Divisão em 1992, o último antes da criação da Premier League. Seus gols e assistências foram cruciais, mas foi sua presença dominante e carismática em campo que realmente transformou a equipe.

A Lenda de Old Trafford: Manchester United e a Era de Ouro

O verdadeiro ápice da carreira de Cantona veio com sua transferência para o Manchester United, em novembro de 1992. Sob o comando de Sir Alex Ferguson, Cantona se tornou a peça central de um time que dominaria o futebol inglês. Sua influência foi imediata; em sua primeira temporada completa, ele levou o United ao título da Premier League, encerrando um jejum de 26 anos.

Cantona era mais do que um jogador de futebol; ele era um artista. Seus gols espetaculares, passes precisos e visão de jogo incomparável fizeram dele um ídolo instantâneo. Vestindo a icônica camisa número 7, ele liderou o United a quatro títulos da Premier League em cinco anos, além de duas FA Cups. Seu estilo de jogo, combinado com sua personalidade excêntrica e temperamental, fez dele uma figura fascinante e, às vezes, polarizadora.

O Momento Icônico: A Voadora contra o Palace

Em janeiro de 1995, Cantona protagonizou um dos momentos mais infames da história do futebol. Após ser expulso em uma partida contra o Crystal Palace, ele desferiu uma voadora em um torcedor adversário que o insultava com xingamentos xenófobos das arquibancadas – um ‘hooligan’. A voadora de Cantona chocou o mundo do futebol e resultou em uma suspensão de nove meses, além de uma multa pesada. Cantona foi condenado a 120 horas de serviço comunitário, que cumpriu treinando categorias inferiores do clube.

Esse incidente poderia ter arruinado a carreira de qualquer outro jogador, mas não a de Cantona. Ele retornou aos campos em outubro de 1995, sendo recebido como um herói em Old Trafford. Seu retorno foi triunfante, e ele liderou o Manchester United a mais um título da Premier League na temporada 1995-96, completando a recuperação de sua imagem e reafirmando seu status de lenda.

A Aposentadoria e a Transição para o Cinema

Surpreendentemente, em 1997, no auge de sua carreira e ainda com muitos anos de futebol pela frente, Cantona anunciou sua aposentadoria aos 30 anos. A decisão chocou o mundo do futebol, mas Cantona, sempre imprevisível, buscava novos desafios. Ele se aventurou no cinema, atuando em diversos filmes e estabelecendo-se como um respeitado ator na França.

Além disso, Cantona se envolveu em várias atividades artísticas e culturais, mostrando que seu talento e carisma iam muito além dos campos de futebol. Ele continuou a ser uma figura influente e inspiradora, demonstrando que, para ele, a vida era um palco onde ele poderia expressar sua criatividade de diversas maneiras.

Eric Cantona não é apenas um jogador de futebol; ele é uma lenda, um ícone revolucionário que mudou a maneira como o jogo é jogado e percebido. Sua influência no Manchester United e no futebol inglês é imensurável. Cantona trouxe uma nova mentalidade ao clube e ajudou a construir a base para a era de sucesso sob Sir Alex Ferguson.

Seu estilo de jogo, carisma e comportamento destemido inspiraram uma geração de jogadores e fãs. Ele mostrou que o futebol é uma arte, um espetáculo que vai além das quatro linhas do campo. O diabo mais vermelho de todos, com seu colarinho levantado e olhar penetrante, permanece uma figura eterna no mundo do futebol, um verdadeiro rebelde imortal.