George Best, o gênio que encantou o mundo com sua habilidade única, viveu intensamente entre glórias nos gramados e excessos fora deles
-09/10/2024
George Best, o gênio que encantou o mundo com sua habilidade única, viveu intensamente entre glórias nos gramados e excessos fora deles
George Best não era apenas um jogador de futebol. Ele era um fenômeno, um ícone de uma era onde o esporte começava a se misturar com a cultura pop e a fama global. Seu talento com a bola nos pés era sobrenatural, capaz de criar momentos de magia pura que paravam torcidas, rivais e espectadores em qualquer estádio que pisasse. Ao mesmo tempo, sua vida fora dos gramados foi marcada por excessos, controvérsias e uma luta constante contra seus próprios demônios. Best foi, talvez, o primeiro grande “rockstar” do futebol, um atleta que personificava tanto a genialidade quanto a autodestruição.
Nascido em Belfast, na Irlanda do Norte, em 22 de maio de 1946, George Best rapidamente se destacou como um prodígio no futebol. Criado em uma família modesta, ele começou a jogar nas ruas de Belfast e, desde muito jovem, já mostrava sinais de que estava destinado a algo especial. A sua habilidade técnica era evidente, mas foi sua visão de jogo e sua capacidade de driblar adversários com facilidade que chamaram a atenção de olheiros.
Aos 15 anos, Best foi descoberto pelo olheiro Bob Bishop, do Manchester United, que enviou um telegrama ao lendário técnico Matt Busby com uma frase que se tornaria icônica: “Acho que encontrei um gênio.” E de fato, Bishop não estava errado. Best se mudou para Manchester, onde começou sua jornada na base do United. Com 17 anos, já fazia sua estreia na equipe principal, e logo ficou claro que ele não era apenas mais um jovem promissor — ele era único.
Nos anos 60, o Manchester United vivia a reconstrução pós-desastre aéreo de Munique, e Matt Busby estava montando uma nova equipe com jogadores como Bobby Charlton e Denis Law. Mas foi a chegada de Best que completou a tríade que transformaria o United em uma potência europeia. George Best trouxe algo que o futebol inglês raramente havia visto: um driblador ousado, com uma confiança inabalável, capaz de jogar tanto pelas pontas quanto pelo centro, que dominava o jogo com um toque de genialidade.
Em pouco tempo, Best se tornou o jogador mais emocionante do futebol europeu. Sua velocidade, controle de bola e habilidade para deixar os defensores para trás eram extraordinárias. Ele não tinha medo de arriscar — se o caminho para o gol envolvesse passar por três, quatro ou até cinco jogadores, Best o fazia parecer simples. No entanto, não era apenas a técnica que o tornava especial. Ele tinha uma aura de carisma que transcendia o campo. Com seu cabelo comprido e estilo irreverente, Best não parecia apenas um jogador de futebol, ele parecia uma estrela de cinema.
O auge de George Best veio em 1968, quando ele foi fundamental para levar o Manchester United à conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus, a atual Liga dos Campeões. Na final, contra o Benfica, Best marcou um dos gols na vitória por 4-1, em um jogo histórico que selou o primeiro título europeu do clube. Naquele ano, Best foi eleito o melhor jogador da Europa, recebendo a Bola de Ouro.
Esse título, no entanto, foi apenas uma parte do que George Best representava no Manchester United. Ele se tornou o rosto da equipe, um símbolo de um futebol ofensivo e de uma era em que o futebol começava a se misturar com o entretenimento global. Best era uma celebridade em uma época em que poucos jogadores de futebol atingiam esse status. Ele se misturava com estrelas da música e do cinema, frequentava festas, e os tabloides começavam a cobrir sua vida fora de campo tanto quanto suas atuações dentro dele.
George Best era conhecido por muitos como “o quinto Beatle”. Não só pela sua aparência, que lembrava os astros do rock da época, mas pelo estilo de vida glamoroso que ele levava. Ele era uma estrela em ascensão, com uma habilidade sobrenatural no campo e um apetite insaciável pela vida fora dele. Best adorava a noite, as festas, as mulheres e a bebida — e foi esse lado fora de controle que, eventualmente, começou a pesar mais que seu talento.
Ainda jovem, Best começou a dar sinais de que o futebol já não era mais sua prioridade absoluta. Embora continuasse a brilhar nos gramados, a frequência com que aparecia nas manchetes por suas noites de farra, seus relacionamentos e seus excessos com álcool começou a aumentar. Ele próprio admitiu, em entrevistas, que se entregou ao lado mais sombrio da fama. “Eu gastei muito dinheiro com bebida, mulheres e carros rápidos – o resto eu desperdicei”, brincou uma vez, em uma frase que acabou resumindo sua vida para muitos.
Os problemas de Best fora de campo começaram a afetar seu desempenho. Ele passou a faltar treinos, perdeu o foco e, pouco a pouco, sua estrela foi se apagando. Matt Busby, que sempre fora um mentor e figura paterna para ele, aposentou-se em 1969, e o Manchester United entrou em declínio nos anos seguintes. A partir de 1972, Best já não era mais o mesmo. Ainda havia lampejos de genialidade, mas ele não conseguia manter o nível de forma constante.
Em 1974, George Best deixou o Manchester United aos 27 anos. Foi uma saída triste e precoce, que deixou muitos torcedores com a sensação de que ele poderia ter feito muito mais no clube. Com mais de 470 jogos e 179 gols, Best havia deixado uma marca indelével na história do United, mas sua história no futebol ainda não tinha terminado.
Nos anos seguintes, Best continuou a jogar, mas sua carreira foi marcada por passagens em clubes menores e até mesmo em ligas de menor expressão, como nos Estados Unidos, onde jogou na North American Soccer League (NASL). Ele passou por uma série de clubes, mas nunca mais atingiu as alturas que havia alcançado no Manchester United. Seus problemas com o álcool se agravaram e começaram a prejudicar sua saúde e sua vida pessoal.
Mesmo com todos os problemas fora de campo, George Best sempre será lembrado como um dos maiores talentos que o futebol já viu. Ele foi um jogador que trouxe alegria e magia ao esporte, que transformou o Manchester United e se tornou uma lenda do futebol mundial. O legado de Best é eterno. Muitos jogadores que vieram depois, como Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, reconheceram a influência que ele teve na forma de jogar e encarar o futebol.
Em 2005, após anos de luta contra o alcoolismo, George Best faleceu aos 59 anos. Sua morte causou uma enorme comoção no mundo do futebol, e milhares de fãs, jogadores e ex-companheiros de equipe prestaram suas homenagens. Best, com todos os seus altos e baixos, deixou uma marca que nunca será esquecida. O Estádio Windsor Park, na Irlanda do Norte, foi rebatizado como Estádio Nacional George Best, um tributo ao homem que deu ao futebol momentos inesquecíveis.
George Best foi um gênio imperfeito. Seu talento incomparável o colocou no topo do mundo do futebol, mas seus excessos e suas falhas pessoais o impediram de alcançar todo o potencial que ele possuía. Ele era um símbolo de uma época em que o futebol começava a transcender o esporte e se tornar parte da cultura pop. Mesmo com sua vida turbulenta, o que George Best fez dentro de campo continua a inspirar gerações. Ele mostrou que o futebol, em sua essência, é um espetáculo, e ele era o melhor ator em cena.
Jornalista em formação pela Unesp Bauru.
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