Os 48 anos de Ronaldo Fenômeno

Ronaldo Fenômeno, de Bento Ribeiro ao topo do mundo, superou adversidades, quebrou recordes e eternizou seu nome na história do futebol com genialidade e resiliência

Ronaldo Luís Nazário de Lima, conhecido mundialmente como o “Fenômeno”, é uma das figuras mais emblemáticas da história do futebol. Nascido em 22 de setembro de 1976, no bairro humilde de Bento Ribeiro, Rio de Janeiro, Ronaldo rapidamente conquistou corações com sua habilidade, velocidade e visão de jogo. Seu talento precoce nas ruas pavimentou o caminho para uma das carreiras mais extraordinárias do esporte, repleta de conquistas, lesões devastadoras e uma volta por cima digna de lenda.

Ronaldo cresceu em um ambiente simples, onde o futebol era mais do que apenas um hobby – era uma válvula de escape. Jogando nas ruas com amigos, já demonstrava um talento fora do comum. Foi nas quadras de futsal que aprimorou sua técnica e dribles, moldando o estilo ágil que mais tarde encantaria o mundo. Ainda criança, sua habilidade chamou a atenção de olheiros, e ele ingressou no Social Ramos Clube e, posteriormente, no São Cristóvão. Lá, seu talento começou a ganhar notoriedade. Com apenas 16 anos, Ronaldo assinou com o Cruzeiro em 1993, onde sua ascensão ao estrelato começou de fato.

Ronaldo, Ídolo do Cruzeiro
Reprodução/Internet

Foi no Cruzeiro que o Brasil e o mundo testemunharam o nascimento de um fenômeno. Em seu primeiro ano como profissional, Ronaldo marcou 56 gols em 58 jogos, uma média impressionante. Seu primeiro gol como profissional, em 1993, foi uma amostra de seu futuro brilhante. Ele driblava adversários com facilidade e finalizava com uma precisão cirúrgica. Aos 17 anos, sua convocação para a Copa do Mundo de 1994 confirmou que o garoto de Bento Ribeiro estava destinado a brilhar nos palcos mais grandiosos do futebol. Embora não tenha jogado naquela Copa, Ronaldo fazia parte do elenco campeão, absorvendo cada detalhe e se preparando para seu momento de glória.

Ronaldo não demorou a atrair a atenção de clubes europeus, e sua primeira parada foi o PSV Eindhoven, na Holanda. Lá, entre 1994 e 1996, ele continuou sua escalada meteórica, marcando 54 gols em 57 partidas. O PSV foi o trampolim para sua carreira europeia, mas foi em 1996, ao ser transferido para o Barcelona, que Ronaldo verdadeiramente explodiu para o mundo. Com apenas 20 anos, ele já era visto como o melhor jogador do planeta.

Sua temporada no clube catalão foi simplesmente mágica. Ele marcou 47 gols em 49 jogos, e alguns desses momentos são lembrados até hoje, como o famoso gol contra o Compostela, onde driblou meia equipe adversária antes de finalizar com perfeição. Ronaldo foi eleito pela FIFA o Melhor Jogador do Mundo em 1996, tornando-se o jogador mais jovem a receber essa honraria.

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Ronaldo, com seu Ballon D´Or, em 1997 – Foto: Getty

Seu impacto foi tão grande que seus próprios companheiros ficavam admirados. “Era inacreditável. Ele era rápido, forte, habilidoso. Ele fazia coisas que nenhum de nós imaginava possíveis” – disse Pep Guardiola, que jogou com Ronaldo no Barcelona. Porém, sua passagem pelo clube foi curta. Após uma disputa contratual, Ronaldo foi vendido para a Inter de Milão, onde viveria tanto o auge de sua carreira quanto os desafios mais difíceis.

Na Inter de Milão, Ronaldo se tornou um ídolo global. Entre 1997 e 2002, ele continuou a brilhar, sendo coroado Melhor Jogador do Mundo pela FIFA novamente em 1997. O futebol italiano, conhecido por sua ênfase na defesa, viu Ronaldo despedaçar até mesmo as defesas mais sólidas da Serie A. Seu ritmo devastador, combinado com dribles curtos e finalizações precisas, fizeram dele um terror para os adversários. Mas foi também na Inter que Ronaldo enfrentou seu primeiro grande desafio físico. Em 1999, sofreu uma grave lesão no joelho que o afastou dos gramados por meses. E em 2000, durante sua tão aguardada volta, a tragédia se repetiu: Ronaldo rompeu o tendão patelar em uma cena que marcou o futebol mundial. A imagem de Ronaldo sendo retirado de campo em lágrimas simbolizava o fim de uma era.

A recuperação foi longa, e muitos acreditavam que ele jamais voltaria a ser o mesmo jogador. No entanto, o espírito de Ronaldo era inquebrável. “Eu sabia que, se eu voltasse, eu não seria o mesmo jogador. Mas isso não significava que eu não poderia voltar e ser grande de novo. Aquele foi o momento mais difícil da minha vida,” confessou Ronaldo em uma entrevista anos depois.

A Copa do Mundo de 2002 marcou a redenção definitiva de Ronaldo, após anos de dúvidas sobre sua capacidade de retornar ao nível mais alto do futebol. Após as graves lesões que quase encerraram sua carreira, o Fenômeno entrou na competição com a missão de provar que ainda era capaz de carregar o Brasil nas costas, e ele não decepcionou. Com oito gols em sete partidas, incluindo os dois decisivos na final contra a Alemanha, Ronaldo foi o grande nome do torneio, conduzindo a Seleção Brasileira ao pentacampeonato.

Desde a fase de grupos, Ronaldo mostrou sua fome de gols, marcando em jogos contra Turquia, China e Costa Rica, mas foi no mata-mata que sua estrela brilhou ainda mais. Nas quartas de final, ele anotou o gol da vitória contra a Inglaterra, e nas semifinais, voltou a marcar para garantir a vaga na final. O corte de cabelo icônico, conhecido como “Cascão”, virou marca registrada daquela Copa, mas nada ofuscou o brilho de suas atuações em campo.

Na final, diante da poderosa Alemanha de Oliver Kahn, Ronaldo estava implacável. Marcou os dois gols da vitória por 2 a 0, garantindo não apenas a taça para o Brasil, mas também a consagração de uma das maiores jornadas de superação da história do futebol. A imagem de Ronaldo, de joelhos no gramado, chorando de emoção ao ouvir o apito final, é até hoje um dos momentos mais simbólicos do esporte. Em suas palavras, “foi a vitória do trabalho, da superação e do amor ao futebol”. Aquela Copa não foi apenas o quinto título mundial do Brasil, mas o capítulo final da redenção de um dos maiores jogadores da história.

TOP 5: Ronaldo escolhe os gols mais importantes da Copa de 2002 |  globoesporte.com
Ronaldo, em seu segundo gol na Final de 2002 | Getty

Em 2002, após o sucesso na Copa, Ronaldo se juntou ao time dos “Galácticos” do Real Madrid, que já contava com estrelas como Zinedine Zidane, Luís Figo e Roberto Carlos. No Santiago Bernabéu, Ronaldo mostrou que ainda tinha muita magia nos pés. Sua estreia foi eletrizante: marcou dois gols e foi ovacionado pela torcida merengue. Durante suas cinco temporadas no clube, Ronaldo marcou 104 gols em 177 jogos e conquistou títulos como La Liga e a Supercopa da Espanha.

Seus companheiros de equipe eram tão fascinados quanto os fãs. “Jogar ao lado de Ronaldo era ver a genialidade de perto. Ele fazia o impossível parecer fácil,” comentou Zidane. Apesar das lesões que continuaram a assombrá-lo, Ronaldo ainda era uma referência no ataque do Real Madrid, e sua capacidade de decidir jogos nos momentos mais difíceis fez dele uma peça fundamental no time galáctico.

Em 2009, Ronaldo surpreendeu o mundo ao anunciar sua volta ao futebol brasileiro para defender o Corinthians. Muitos acreditavam que, com sua idade e problemas físicos, Ronaldo não poderia mais brilhar como antes. Mas, mais uma vez, ele calou os críticos. Em sua estreia pelo Corinthians, Ronaldo marcou gols decisivos, liderando o time à conquista do Campeonato Paulista e da Copa do Brasil em 2009. Seu gol contra o Santos na final do Paulistão, driblando o goleiro e tocando para o gol vazio, mostrou que o “Fenômeno” ainda tinha muito a oferecer.

Porém, com o passar dos anos, as lesões e a luta contra o peso cobraram seu preço. Em 2011, Ronaldo anunciou sua aposentadoria. Em lágrimas, ele revelou que lutava contra o hipotireoidismo, uma condição que dificultava o controle de seu peso. “Eu perdi para o meu corpo,” disse ele, encerrando uma das carreiras mais brilhantes e emocionantes que o futebol já viu.

Mesmo fora dos gramados, Ronaldo não se afastou do futebol. Em 2018, ele se tornou acionista majoritário do Real Valladolid, clube da La Liga, e em 2021, adquiriu o Cruzeiro, o time onde começou sua jornada. Sua paixão pelo esporte e sua visão empresarial mostraram que o Fenômeno continuava a deixar sua marca, agora fora das quatro linhas.

A trajetória de Ronaldo Fenômeno é a personificação do que significa ser uma lenda no esporte. Desde os primeiros chutes no subúrbio carioca até as glórias nas Copas do Mundo e nos maiores clubes do planeta, sua carreira foi marcada por superações inacreditáveis e feitos memoráveis. Ele transformou adversidades em combustível para se reinventar, mesmo quando as lesões ameaçavam encerrar seu legado prematuramente. Ronaldo não foi apenas um artilheiro extraordinário; ele foi um ícone de resiliência e paixão pelo futebol. Dentro e fora dos campos, sua influência moldou gerações e redefiniu o que é ser um grande jogador. Hoje, seu nome está gravado na história do esporte como o “Fenômeno” que encantou o mundo, deixou um legado imortal e continua impactando o futebol, seja como empresário ou símbolo de perseverança.

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Cristian Bessone

Editor do Sports Context

Jornalista em formação pela Unesp Bauru.

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