Descubra a história fascinante das chuteiras de futebol, desde os modelos pesados do século 16 até as criações tecnológicas de hoje, e como elas moldaram o esporte ao longo dos séculos
-09/10/2024
Descubra a história fascinante das chuteiras de futebol, desde os modelos pesados do século 16 até as criações tecnológicas de hoje, e como elas moldaram o esporte ao longo dos séculos
As chuteiras de futebol, essas peças essenciais que todo jogador usa nos campos hoje em dia, têm uma história muito mais longa e interessante do que a maioria imagina. O que começou como uma ideia simples, evoluiu para um dos elementos mais importantes e tecnologicamente avançados do esporte. Mas antes de chegarmos nas chuteiras de última geração que vemos nas vitrines das lojas, com designs ultramodernos e feitas de materiais futurísticos, a história tem um começo bem mais modesto.
Lá atrás, no século 16, quando o futebol ainda era um jogo bastante caótico e informal, sem muitas regras e com muita confusão, as chuteiras como conhecemos simplesmente não existiam. Naquela época, os jogadores usavam qualquer tipo de calçado que tivessem disponível, o que geralmente significava botas pesadas e desajeitadas. Para se ter uma ideia de como o jogo era diferente, as travas nas solas das botas eram pregos de metal, usados mais para proteger os pés do que para dar tração ou controle. O conforto e o desempenho estavam longe de ser uma prioridade. E se hoje associamos o futebol a um estilo de vida glamouroso, naquela época, o esporte era bem mais bruto e rústico.
O verdadeiro marco zero das chuteiras de futebol veio com o famoso rei inglês Henrique VIII. Sim, isso mesmo! Dizem que em 1526, o rei encomendou um par de botas feitas sob medida para jogar futebol. A história conta que ele gostava tanto de esportes que quis um calçado específico para a prática. Essas botas, no entanto, não eram exatamente o que a gente considera uma “chuteira”, mas foram o primeiro exemplo de um calçado feito com o propósito específico de jogar bola.
Durante os séculos seguintes, o futebol foi evoluindo lentamente, especialmente na Inglaterra, onde o esporte ganhou popularidade entre os trabalhadores e estudantes. À medida que o jogo se tornava mais organizado, as chuteiras também começaram a passar por algumas mudanças. Já no século 19, as botas começaram a ser mais parecidas com o que estamos acostumados, mas ainda eram feitas com couro grosso e pesado, cobrindo o tornozelo para proteger os jogadores em uma época em que as regras do jogo ainda permitiam muito mais contato físico. Se você pensar bem, os campos naquela época também não eram nada como os gramados perfeitos que vemos hoje; eram irregulares, cheios de lama, pedras e buracos, então a ideia era proteger os pés e pernas dos jogadores, não necessariamente dar uma boa performance.
Foi no final do século 19 que as primeiras travas começaram a aparecer nas chuteiras. Eram travas de couro ou metal, que os jogadores pregavam na sola das botas para dar mais tração em campos escorregadios. Isso foi um grande avanço, já que agora os jogadores tinham um pouco mais de controle ao correr e ao driblar, além de conseguir manter o equilíbrio em terrenos difíceis. As chuteiras ainda eram pesadas, desconfortáveis, mas o progresso estava começando a acontecer.
O próximo salto na evolução das chuteiras veio no início do século 20, quando o futebol começou a se tornar um esporte global. Com o surgimento de campeonatos internacionais e a popularização do futebol em países fora da Europa, as chuteiras também começaram a se diversificar. Foi por volta dessa época que as empresas especializadas começaram a surgir, com a Alemanha sendo um dos principais centros de inovação.
Aí entram em cena os irmãos Dassler, Adolf e Rudolf, que fundaram uma fábrica de calçados esportivos na década de 1920. Se o nome Dassler não soa familiar, talvez os nomes das empresas que eles fundaram depois da briga de irmãos soem: Adidas e Puma. Esses dois gigantes da indústria esportiva nasceram das ideias que Adolf e Rudolf tiveram enquanto ainda trabalhavam juntos, desenvolvendo calçados para atletas. A inovação que eles trouxeram para as chuteiras foi a introdução de travas removíveis, que permitiam aos jogadores ajustar suas chuteiras de acordo com as condições do campo.
Mas, antes de entrarmos na história de como as chuteiras da Adidas dominaram o cenário mundial, é interessante ver o impacto da tecnologia nos designs das chuteiras ao longo do século 20. A mudança mais notável foi a redução no peso das chuteiras. Se antes elas eram pesadas e rígidas, agora estavam se tornando mais leves e flexíveis, com solados de borracha e couros mais finos, permitindo aos jogadores correrem mais rápido e se moverem com mais agilidade em campo. Isso se tornou particularmente importante após a Segunda Guerra Mundial, quando o futebol começou a ser jogado em campos mais bem cuidados e com muito mais técnica envolvida.
A Adidas teve um papel enorme nessa revolução, especialmente quando as chuteiras com travas removíveis foram usadas pela primeira vez na Copa do Mundo de 1954. A Alemanha Ocidental, usando chuteiras da Adidas, venceu a favorita Hungria em uma das maiores zebras da história das Copas. E não foi só uma vitória qualquer. Muitos acreditam que o fato de os jogadores alemães poderem ajustar suas chuteiras de acordo com o campo molhado foi decisivo para aquele resultado. Esse foi um dos primeiros exemplos de como a tecnologia nas chuteiras poderia influenciar o resultado de uma partida.
Enquanto a Adidas se consolidava como a grande marca de chuteiras na Europa, a Puma também começou a inovar, principalmente com o desenvolvimento de chuteiras mais voltadas para o estilo dos jogadores. Nos anos 60 e 70, as chuteiras começaram a refletir não apenas a necessidade de um bom desempenho em campo, mas também o estilo e a personalidade dos jogadores. Pelé, uma das maiores lendas do futebol, jogou suas Copas do Mundo com chuteiras da Puma, ajudando a marca a se consolidar no cenário global.
Nos anos 80 e 90, as chuteiras passaram por uma verdadeira revolução visual. As cores começaram a surgir, os designs ficaram mais ousados, e a competição entre marcas como Nike, Adidas e Puma se intensificou. A Nike, que antes focava mais no mercado de basquete e corrida, entrou com tudo no futebol, lançando modelos icônicos como a linha Mercurial, usada por Ronaldo Fenômeno, que ficou famosa por sua leveza e design futurista.
O futebol dos anos 2000 trouxe uma explosão de novas tecnologias, como a introdução de materiais sintéticos e fibras ultraleves, que permitiram chuteiras cada vez mais rápidas e eficientes. Hoje, as chuteiras de futebol são obras de arte tecnológicas. Empresas como Nike, Adidas e Puma continuam a disputar a liderança no mercado, trazendo inovações como travas com designs aerodinâmicos, solados que se adaptam ao terreno e materiais que aumentam o controle da bola.
A história das chuteiras de futebol reflete não só a evolução do esporte, mas também a mudança de como o futebol é jogado, assistido e até consumido. Desde as botas pesadas de Henrique VIII até as chuteiras ultraleves e tecnológicas que vemos nas vitrines hoje, cada avanço trouxe uma nova forma de jogar e entender o futebol. O que começou como uma peça de proteção bruta, se transformou em um dos principais elementos de um esporte que movimenta o mundo. E, sem dúvida, as chuteiras continuarão evoluindo, acompanhando o ritmo frenético de um dos esportes mais amados e praticados no planeta.
Jornalista em formação pela Unesp Bauru.
Desenvolvido por Estratégia Digital